'Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes! E eu acreditava. Acreditava porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis'

01 outubro, 2007

Memórias



voltei à casa onde te chorei mil vezes. continuas cá. na janela por onde olhava quando falava contigo (à tua procura, sempre). continuas cá. nos papéis que ainda guardam pedaços de ti. nas minhas mãos. continuas cá.

as lágrimas são gravadores de passados. e eu voltei a chorar-te.
[Foto: Lilya Corneli]

5 comentários:

V. disse...

Destino
Cecília Meireles


Pastora de nuvens, fui posta a serviço
por uma campina desamparada
que não principia nem também termina,
e onde nunca é noite e nunca madrugada.

(Pastores da terra, vós tendes sossego,
que olhais para o sol e encontrais direcção.
Sabeis quando é tarde, sabeis quando é cedo.
Eu, não.)

Pastora de nuvens, por muito que espere,
não há quem me explique meu vário rebanho.
Perdida atrás dele na planície aérea,
não sei se o conduzo, não sei se o acompanho.

(Pastores da terra, que saltais abismos,
nunca entendereis a minha condição.
Pensais que há firmezas, pensais que há limites.
Eu, não.)

Pastora de nuvens, cada luz colore
meu canto e meu gado de tintas diversas.
Por todos os lados o vento revolve
os velos instáveis das reses dispersas.

(Pastores da terra, de certeiros olhos,
como é tão serena a vossa ocupação!
Tendes sempre o início da sombra que foge...
Eu, não.)

Pastora de nuvens, não paro nem durmo
neste móvel prado, sem noite e sem dia.
Estrelas e luas que jorram, deslumbram
o gado inconstante que se me extravia.

(Pastores da terra, debaixo de folhas
que entornam frescura num plácido chão,
Sabeis onde pousam ternuras e sonos.
Eu, não.)

Pastora de nuvens, esqueceu-me o rosto
do dono das reses, do dono do prado.
E às vezes parece que dizem meu nome,
que me andam seguindo, não sei por que lado.

(Pastores da terra, que vedes pessoas
sem serem apenas de imaginação,
podeis encontrar-vos, falar tanta coisa!
Eu, não.)

Pastora de nuvens, com a face deserta,
sigo atrás de formas com feitios falsos,
queimando vigílias na planície eterna
que gira debaixo dos meus pés descalços.

(Pastores da terra, tereis um salário,
e andará por bailes vosso coração.
Dormireis um dia como pedras suaves.
Eu, não.)


Um beijinho grande. Grande.*

musalia disse...

sempre as ausências...
as definitivas, as que regressam em vagas, as que vamos construindo mesmo sabendo que já não existem...

bjs.

joão marinheiro disse...

Gostei. Forte. Intenso...
Abraço daqui juntinho ao mar das memórias...

Unknown disse...

Adorei...

Obrigado também pela tua visita... um beijo...


O que dói
é não poder apagar a tua ausência
e repetir dia após dia os mesmos gestos.

O que dói
é o teu nome que ficou como mendigo
descoberto em cada esquina dos meus versos.

O que dói
É tudo e mais aquilo que desteço
ao tecer para ti novos regressos

Daniel Faria

Abssinto disse...

I would rather not go
Back to the old house
I would rather not go
Back to the old house
There's too many
Bad memories
Too many memories
There ...
There ...
There ...

When you cycled by
Here began all my dreams
The saddest thing I've ever seen
And you never knew
How much I really liked you
Because I never even told you
Oh, and I meant to


Are you still there ?
Or ... have you moved away ?
Or have you moved away ?
Oh ...


I would love to go
Back to the old house
But I never will
I never will ...
I never will ...
I never will ...

(Back to the old house - The Smiths)

*

Arquivo do blogue