"O Hermes levanta-se, puxa o braço da irmã e diz:
Também te espero lá. Às setenta e quarenta horas. Com o relógio dos sonhos.
[Excerto: Cemitério de Pianos, José Luís Peixoto
Foto: Maria Isabel Baptista]
- Ela está a dizer que a mãe volta às setenta e quarenta horas...
A Iris ri-se sozinha. A Ana e a Elisa olham na sua direcção e sorriem. A Ana diz:
- Oh...
A Íris, no meio de rir, diz:
- Volta às mil horas.
A Ana, a rir-se, olha para a Elisa e roda o indicador na testa. A porta abre-se de repente. A minha mulher, sem entrar, chama a Íris. Vem buscá-la para dormir uma sesta. O Hermes começa a fazer uma birra. Quer que a prima continue a brincar. A minha irmã começa a ralhar com ele. Ele vai começar a chorar, vai mesmo começar a chorar, quando levanta o carrinho dos bombeiros e o atira para o chão com toda a força.
A Íris tem quase três anos. Chega-se ao pé dele, encosta o dedo aos lábios e, muito séria, só para o Hermes ouvir, diz-lhe:
- Não choras. Eu vou dormir a sesta com a avó, mas volto ontem. Está bem? Volto às setenta e quarenta horas.
E deu-lhe um beijo na face."
Também te espero lá. Às setenta e quarenta horas. Com o relógio dos sonhos.
[Excerto: Cemitério de Pianos, José Luís Peixoto
Foto: Maria Isabel Baptista]
8 comentários:
Eu também quero um relógio desses. Que me deixe dormir no sonho dos ponteiros para lá dos ponteiros para lá dos ponteiros.
Bonito. :)
Belo relógio. Belo sonho.
bjs
O tempo sonhado da infância em relógio de brincadeiras...
Fresco e lindo.
Bjs.
Esses relógios compram-se nas lojas chinesas? Assim baratinhos?
:)
esse ainda não li, só o começo:)
Saudadinhas [ muitassssssss ] de te ler!
:)
*
Eu volto um dia destes. Quando arrumar a minha vida desarrumada! :)
Obrigada!
Beijinho.
bom excerto. por acaso já li algumaa coisas dele mas o cemitério de pianos nunca me chamou a atenção. tenho que realaviar essa situação :)
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