Umas botas altas. Demasiado altas, até. O cabelo preto escorre-lhe pelas costas. E a linha escura que teima em desenhar nos olhos faz-lhe buracos no rosto.
Ao seu lado caminha um homem. O seu homem em tempos. Hoje, não mais do que uma sombra. É que as sombras, dizem, não falam, nem sequer nos ouvem. Só insistem em pesar-nos nos pés.
(O que lhes terá acontecido?)
Não os conheço. Nem à mulher nem à sombra. Mas imagino-os sentados, lado a lado, numa estação de comboios. Num dia solarengo. A falar com as couves que crescem ao lado.
(Não sabem dizer mais)
À espera que o próximo comboio (que ainda não ouvem) tenha lugar para apenas mais um. E que passe depressa. Muito depressa. Para que o corte das correntes que ainda os aprisionam não deixe marcas.
2 comentários:
Acontece que me canso de meus pés e de minhas unhas, do meu cabelo e até da minha sombra. Acontece que me canso de ser homem.
Pablo Neruda
...
Ando com este excerto a ecoar dentro da minha cabeça. Talvez ele sinta o mesmo. E ela se canse, também, de ser mulher... Talvez.
"Pensei que a melhor coisa do mundo devia ser a sombra..."
Sylvia Plath
Esta frase está-me à muito na cabeça... Recordaste-ma.
:)
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