'Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes! E eu acreditava. Acreditava porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis'

29 março, 2007

A balança


O momento de uma vida. Aquele que dá sentido a uma existência. Até acontecer. Tinha chegado. Tinha finalmente chegado.
E ele estava preparado. Claro que estava. Tinha vestido as suas melhores roupas, com as cores mais bonitas, um sorriso no rosto.

Não queria estar nervoso. Muito menos parecer nervoso. Onde já se viu um livro inquieto? E se as mãos do menino que o deveria levar para casa notassem? E se elas reparassem? Ele tinha esperado por este momento a vida inteira. Não o podia desperdiçar por um leve tremelicar de folhas.

Luz, muita luz. Que luz toda era aquela? E barulho. E confusão.
Era impossível não ficar nervoso.

Não não podia ficar nervoso. Ele que esperou por este momento a vida inteira.
Ele tinha que ser levado por umas mãos de menino. Não podia esperar mais. Tinha que ser lido agora.

E as mãos chegaram. Umas mãos pequenas, mas fortes, como sempre sonhara. E se há coisa que os livros fazem melhor do que ninguém é sonhar.

O momento de uma vida. Aquele que dá sentido a uma existência tinha chegado.

Ele não sabe quanto tempo passou desde que deixou toda aquela luz para ficar depositado numa estante escura. Parece-lhe uma eternidade. Sabe que as mãos do menino o tinham lido sofregamente. Sentiu-se feliz nesse instante. (Pareceu-lhe não mais do que um instante)

Mas as palavras chegaram ao fim. Ele não tinha mais a dizer. A partir dali seriam apenas repetições. Não mais voltaria a ser lido sofregamente pelo menino das mãos pequenas. Não mais da mesma forma. Talvez não mais de forma nenhuma.

O momento de uma vida. Até acontecer.
E se nunca tivesse acontecido?
Imagem: Google

2 comentários:

Bruna Pereira Ferreira disse...

Não há momento insubstituíveis.
Há momentos únicos.

:)

Anónimo disse...

E se...? Bem, nunca vamos saber... Acho que teríamos de nascer de novo, não?

Beijinho grande*

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